A partir desta edição de "O Emissário", vamos recordar e conversar com as pessoas que, com muita luta, construíram a história da nossa entidade. A união de todos os servidores do DAE (Departamento de Água e Esgoto de Jundiaí) começou antes mesmo da entidade sindical. Em 1986, vivíamos a Nova República, tendo como presidente o Sr. José Sarney, e uma nova moeda, o Cruzado, plano econômico do governo federal que estabeleceu o congelamento de preços e gatilho salarial cada vez que a inflação atingisse 20%. Ocorreram eleições gerais naquele ano para governadores, senadores e deputados (federais e estaduais), e o grande foco era a Assembleia Constituinte. Em Jundiaí, o prefeito era o Sr. André Benassi, eleito em 1985 e à frente da administração a partir de 1º de janeiro do ano seguinte. Também foi destaque mundial, naquele ano, a morte de 47 trabalhadores no Acidente de Chernobyl.
Na DAE, os servidores desenvolviam suas atividades com a mesma dedicação de sempre, prestando um serviço de grande qualidade à população de Jundiaí, mas, em meados de 1986, a situação começou a se deteriorar. Em 1987, a situação já era crítica: baixos salários e, principalmente, más condições de trabalho. Sem nenhuma segurança, lamentavelmente, ocorreu a morte por soterramento do companheiro Nivaldo Pinto. O falecimento do amigo serviu como um estopim, e uma pauta de reivindicações foi elaborada com a participação de toda a categoria e entregue ao então superintendente do departamento, o Sr. Rui Chaves, e ao Prefeito André Benassi, mas nada aconteceu.
Cansados com a situação e não aguentando mais serem enganados, líderes da categoria (ainda não existia o SINDAE) buscaram apoio em outros sindicatos e convocaram assembleia da categoria. 13 de outubro de 1987: essa data nunca poderá ser esquecida. Às 18h00, a sede do Sindicato dos Bancários de Jundiaí ficou lotada. Eram os companheiros que trabalhavam no DAE que, não suportando mais as condições em que viviam, deflagraram a greve. No primeiro dia, a participação já era de 95%. Surgiu aí a intransigência e o poder ditatorial do prefeito Benassi e do superintendente Rui, que não aceitavam negociar, mesmo quando a Justiça do Trabalho mandava, e mesmo sendo muitas das reivindicações leis que a prefeitura não cumpria. Usaram todo tipo de truculência e tentaram, de todas as maneiras, acabar com a greve, mas tudo isso serviu apenas para unir a categoria, que, mesmo após as demissões, continuou firme na luta.
A população começou a sofrer as consequências com a falta de manutenção e água, mas não deixou de apoiar os trabalhadores. A greve se alongou e iniciou-se a arrecadação de alimentos, com total apoio do povo de Jundiaí, que doava. A imprensa da cidade exigiu uma postura democrática da administração do DAE e do prefeito André, que continuavam intransigentes. Com 182 demissões (80 homens e 2 mulheres), com uma situação insustentável e sem nenhum interesse de negociar por parte do Poder Executivo, que pouco se preocupava com os servidores do DAE e com a população, a categoria, reunida em assembleia, decidiu encerrar a greve exatos 30 dias depois de iniciada.
Foi necessário o encerramento do movimento para que a assessoria jurídica pudesse entrar com o processo de reintegração dos demitidos, mas o sentimento era de vitória. A categoria saiu unida como nenhuma outra categoria de Jundiaí e sabia que era uma questão de tempo para conquistar as reivindicações. Em entrevista aos jornais da época, a líder Adenir Pinto, presidente do SINDAE (até maio de 2017), afirmava: "Apenas a paralisação cessou, a luta por nossos direitos irá continuar, mas agora na Justiça". E continuou. Em 1989, os servidores venceram, e a justiça foi feita: os que haviam sido demitidos foram reintegrados. Um pouco antes, alguns companheiros que estavam na ativa fundaram o SINDAE, deixando toda a parte burocrática pronta e aguardando apenas o retorno dos líderes do movimento para convocar a eleição da primeira diretoria. Na próxima edição, continuaremos a contar um pouco mais de nossa história e entrevistaremos alguns companheiros que sempre acreditaram na união da categoria. O SINDAE é um sindicato que nasceu do movimento em defesa de dias melhores e forjado na luta dos servidores.